sábado, 22 de outubro de 2011

Wislawa Szymborska

Nascida em 1923, a polonesa Wislawa Szymborska é uma escritora popular na internet. Seus poemas são reproduzidos com perceptível agrado em milhares de sites e blogs, tanto em seu idioma natal como em traduções para várias outras línguas.

Wislawa reside na cidade de Cracóvia desde 1931, onde estudou literatura polonesa e sociologia. Sua atividade literária inicia-se durante a Segunda Guerra Mundial, nos anos de resistência à ocupação nazista. Sua estréia em letra de fôrma deu-se em 1945, quando publicou um poema num jornal. Entre 1953 e 1981, trabalhou como editora de poesia e colunista na revista semanal Życie Literackie (Vida Literária). Sua coluna chamava-se "Leitura Não Obrigatória".

O primeiro livro de Wislawa estava para ser publicado em 1949, mas não passou na censura da então República Popular da Polônia: "não atendia às exigências socialistas". Mesmo assim, ela permaneceu leal à orientação oficial, como a maior parte dos intelectuais poloneses no pós-guerra. Seu primeiro livro saiu afinal em 1952, e nele há poemas laudatórios às realizações do regime. Ela também tornou-se membro do partido comunista polonês, no qual permaneceu até 1966, embora desde o final dos anos 50 já mantivesse contato com intelectuais dissidentes. Hoje, a autora descarta de sua obra os primeiros livros.

Wislawa Szymborska publicou 16 coletâneas de poesia e também traduziu poemas do francês. Poeta quase desconhecida, ganhou notoriedade após receber o prêmio Nobel de Literatura em 1996.
Uma característica surpreendente e, ao mesmo tempo, cativante nos escritos de Wislawa é a sua teimosa aderência à vida cotidiana. A transcendência de sua poesia vem dos fatos, das relações entre pessoas, de raciocínios marcadamente concretos. Outro traço importante é a ausência quase total de metáforas. Trata-se de uma poesia bastante prosaica e que carrega em si uma feliz contradição: são criações sofisticadas que, ainda assim, conseguem conquistar simpatia quase imediata.

Pode-se acrescentar ainda outro aspecto: o refinado gosto pela lógica de
Wislawa Szymborska. Tanto quanto possível, o discurso é claro e, em muitos casos, tem um quê de livro científico. São textos em que a emoção vai sempre de braços dados com a razão. Nesse quesito, o verso szymborskiano encarna uma espécie de avesso do surrealismo.

O apreço à lógica e às descrições quase exatas perpassa todos os poemas enfeixados na miniantologia ao lado. Em "O Terrorista, Ele Observa", há um andamento cinematográfico, no qual quase se ouve, com aflição, o tique-taque fatídico de um relógio, já sabendo, desde o primeiro verso, que "uma bomba explodirá no bar às treze e vinte".

"As Três Palavras Mais Estranhas" é outro texto dominado pelo raciocínio lógico. São afirmações simples, óbvias e envolventes. "Quando pronuncio a palavra Futuro / a primeira sílaba já pertence ao passado". No final, a palavra Nada entra em flagrante contradição com a idéia de "criar algo". 
No mesmo diapasão está o poema "Pi". A autora consegue extrair substância lírica até da aridez matemática do número pi e sua sucessão interminável de algarismos. Em sua louvação ao número grego, Wislawa inclui até conceitos de física como a curvatura da luz. Numa comparação, ela diz que os raios de uma estrela se dobram no espaço. O número pi, não: nada o detém e ele segue sempre, indiferente à ação das forças do universo. Com pequenas seqüências de dígitos entremeadas nas frases, ela cria poeticamente a sensação da gloriosa infinitude desse 3,141592653589793238...

Fecho a seleção com o poema "Quarto do Suicida". Aqui, o texto oferece uma descrição do aposento anunciado no título e termina não com uma resposta, mas com a confirmação de uma imensa dúvida: por quê?
Encontrei na internet todos os quatro poemas apresentados ao lado. Do primeiro, "O Terrorista...", li umas três versões em português e preferi a do poeta e experiente tradutor paulistano Nelson Ascher. Também achei várias traduções de "As Três Palavras..." em diferentes idiomas. A que vai transcrita aqui foi feita em Portugal por Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. A tradução de "Quarto do Suicida" é da poeta carioca
Ana Cristina Cesar (1952-1983), em colaboração com a polonesa Grazyna Drabik.

Além dos dois poemas já citados, destaquei o intrigante "Pi", do qual não achei nenhuma versão em português. Num rompante, decidi traduzi-lo. Como obviamente não conheço uma só palavra do polonês, pus-me a comparar versões em inglês (o maior volume de traduções está nessa língua), italiano, espanhol e francês. Contei ainda com a ajuda de um colega jornalista de origem polonesa.

Fontes: Texto de Carlos Machado 
OBRA POÉTICA
Desde então, foram 12 volumes de poesia, cerca de 250 poemas. Ela ainda escreveu durante alguns anos crônicas sobre temas diversos em uma revista semanal da Polônia.
A linguagem simples e o senso de humor são características recorrentes de seu trabalho, afirma Henryk Siewierski, professor de teoria literária da Universidade de Brasília e autor de livro sobre a história da literatura polonesa.
Em um de seus poemas, ela zomba da essência e dimensão do próprio trabalho.
"Para os poetas poloneses nascidos no entreguerras, quando seu país ressurgiu das ruínas de três impérios, não havia crime ou pecado maior que o hermetismo", afirma Nelson Ascher, que assina a orelha do livro.
Entre os assuntos preferidos da escritora estão questões da biologia, do cosmos e da evolução humana.
A tradução da obra foi feita por Regina Przybycien, doutora em literatura comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais.
"Ela utiliza um polonês coloquial-culto, qualquer pessoa pode ler. A profundidade se refere aos temas que ela aborda", afirma.
Bastante discreta, a escritora mora desde criança em Cracóvia e segue uma rotina distante da mídia.
Em 2009, quando esteve na Universidade de Bolonha, provocou comoção no público italiano.
Diante da longa fila que se formou para obter seu autógrafo, ela afirmou, em tom bem-humorado, que soube então o que faria no Inferno: passaria os dias autografando os livros dos condenados.

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