sábado, 24 de setembro de 2011

Ovídio: Um Poeta Censurado e Exilado

Seus poemas podem ser líricos, libertinos, irônicos. Por motivos ainda não bem definidos, o Poeta de Tristia e de Metamorfose foi exilado de seu país. Freqüentava o palácio do Imperador Augusto onde, como até hoje, imperam fofocas, intrigas, amores. E as censuras e comentários sobre suas criações tidas como licenciosas acabaram por levar o Imperador a decidir pelo banimento de Ovídio para o Ponto Euxino, costa do Mar Negro, região distante de Roma. De lá de onde ele jamais voltou, escrefendo sempre a sua esposa, amigos e ao mesmo Imperador.
Apreciado como um dos maiores poetas da latinidade, Ovídio permanece ao lado de Virgílio até os dias atuais. Se outros escritores latinos continuam citados, como Cícero, estes dois têm edições de suas obras principais sempre publicadas e com novas traduções em diferentes países do Planeta. O poeta de Eneida, mais com suas Bucólicas; o poeta de Tristia, mais com seu Ars Amatória. São dos fundadores da civilização que herdamos, mas mesmo com o sucesso de suas obras, vão cada vez mais reduzidos aos Cursos de Letras Neolatinas, com acentuada e crescente perda de nossa personalidade lingüístico-cultural.
Seus mais recentes tradutores, em Língua Portuguesa, Natália Correia e David Mourão-Ferreira: “Ovídio foi um poeta de grandes qualidades. Contemporâneo de figuras importantíssimas da Literatura Latina, tais como Vergílio e Horácio, não se deixou ofuscar por eles e soube conquistar seu espaço próprio no mundo literário romano. Para isso contribuíram sua enorme cultura, seu virtuosismo no manejo do verso, a facilidade que tinha para escrever sobre diferentes assuntos, a facilidade de agradar ao público e, sobretudo, seu talento incomparável, capaz de dirigir-lhe o espírito brilhante, perspicaz e irreverente.”
Vale registrar nesta breve anotação, crítica de A. J. da Silva Azevedo, em Humanitas, 2ª. edição, Ed. Saraiva, 1948:”Espírito brilhante e frívolo – podemos chamá-lo um poeta cem por cento. Cultura completa (não foi em vão que estudou Retórica) tornou-se o poeta da moda. Os estudos de Filosofia em Atenas outorgaram-lhe uma vastíssima visão dos problemas do Mundo. Os eruditos amavam-no. A sua frivolidade popularizou-o mais ainda. Sonhava realizar trabalho de fôlego, tendo deixado inacabadas duas obras (Metamorfoses e Fastos) devido à desgraça do exílio.” Este crítico o chama de poeta da elegia trágica.
Existe, entre outras, tradução de Ars Amatoria/Ars Amandi por Antônio Feliciano de Castilho, que, segundo os tradutores do excerto de poema aqui reproduzido, “se valeu de versos alexandrinos e de rima paralela...” Existem traduções em várias outras línguas e algumas em prosa.
O livro, escrito nos primeiros anos desta era, se compõe de três partes. Os poemas tratam de técnicas de conquista por parte das mulheres, e nisso o Poeta trata da apresentação social, pintura, postura no andar, no falar e até em escrever cartas. Vale, portanto, ser lido e apreciado em vários de seus aspectos literários e mesmo históricos. O segundo livro é dirigido ao sexo masculino, que assim termina:”A todos aqueles que felizes venceram, / com a ajuda do gládio que de mim receberam, / uma bela amazona, nos seus troféus inscrevam: Ovídio foi meu mestre.”
No mesmo Arte de Amar, entre tantas “tiradas” sobre o amor e o amar, esta: “Abomino a mulher que se entregou / apenas porque tem de se entregar e que nenhum prazer experimentando / frigidamente faz amor pensando / no novelo de lá.” (op. cit.)
O escreveu, em Remédios do Amor, sobre ser criticado: “Nuper enim nostros quidam carpsere libellos / quorum censura Musa proterva meat: / dummodo sic placeam, dum toto canter in orbe, / quod volet, impugnent unus et alter opus!” (Há pouco, alguns criticaram meus livrinhos espalhando que minha Musa é libertina. Contanto que eu agrade, contanto que eu seja elogiado em todo o mundo, um ou outro, se quiser que ataque meu poema...”
Seus poemas podem ser líricos, libertinos, irônicos. Por motivos ainda não bem definidos, o Poeta de Tristia e de Metamorfose foi exilado de seu país. Freqüentava o palácio do Imperador Augusto onde, como até hoje, imperam fofocas, intrigas, amores. E as censuras e comentários sobre suas criações tidas como licenciosas acabaram por levar o Imperador a decidir pelo banimento de Ovídio para o Ponto Euxino, costa do Mar Negro, região distante de Roma. De lá de onde ele jamais voltou, escrefendo sempre a sua esposa, amigos e ao mesmo Imperador.
Publius Ovidius Naso/Públio Ovídio Nasão nasceu em 20 de março de 43 a.C. em Salmona. Segundo observa Tassilo Orpheu Spalding (Dic. Lit. Latina) “... é um dos poetas que nas suas obras deixou mais notícias autobiográficas que qualquer outro.”
Entre outros escritos, Tristia, Os Tristes/As Coisas Tristes, ele relata a noite trágica do exílio num de seus mais bonitos momentos poéticos: “Quum subit illius tristissima noctis imago / quae mihi supremum tempus in Urbe fuit: / quum repeto noctem, qua tot mihi cara reliqui, / labitur ex oculis nunc quoque gutta meis.” (Quando recordo a tristissima imagem daquela noite, para mim o derradeiro instante na Cidade (Roma), quando recordo a noite em que deixei tantas pessoas queridas, corre ainda neste instante uma lágrima de meus olhos.”
Written by Paschoal Motta     09-Set-2006 às 07:20 
Paschoal Motta é escritor, reside em Belo Horizonte-MG
[Texto publicado na versão impressa de Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte, nº 125, agosto de 2006, pág. 12]

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