domingo, 18 de dezembro de 2011

José de Sousa Saramago nasceu em 1922, em Azinhaga, aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses.

Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção numa editora.

Iniciou sua atividade literária em 1947, com o romance Terra do Pecado, só voltando a publicar (um livro de poemas) em 1966.

Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em 1975, tornou-se diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Acuado pela ditadura de Salazar, a partir de 1976 passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.

Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, visto hoje como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois.

Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português - o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde viveu até a morte. Foi ele o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.

Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).
Morreu em 18 de junho de 2010, em Lanzarote, Espanha.

O Mundo Literário de José Saramago é constituído por quatro elementos fundamentais : Primeiro, a dúvida do homem moderno numa dupla lógica de assumir uma posição crítica sobre o passado e, ao mesmo tempo, aprender com o passado. Segundo, a introdução dos elementos sobrenaturais, ou seja, fantásticos, não se distanciando, no entanto, do mundo real. Terceiro, a tentativa de uma nova linguagem que altera a sua expressão gráfica e pontual, respeitando a sintaxe da narrativa comum. Por último, a viagem não só no mundo real, mas também no interior do Homem através da imaginação. Com estes elementos de 'tempo', 'sobrenatural', 'torrencialidade da narrativa' e 'a viagem' que se interpenetram as suas obras procuraram a utopia através de alusões alegóricas, críticas e éticas.
Assim, Saramago tem vindo a tentar, nas obras publicadas desde "Levantado do Chão", a harmonia entre a realidade e a imaginação através de trabalhos que pretendem unir numa só empreitada os planos expressivos da fala, do pensamento e da escrita. Por isso, uma relação de quase simbiose entre o narrador e a matéria narrada, o discurso interior e as tensões internas do discurso narrativo são importantes na compreensão as suas obras. O que se denota facilmente nos seus romances é o espírito renovador e experimental em procurar um estilo muito pessoal e, ao mesmo tempo, solto e torrencial.
Na realidade, utiliza só vírgula e ponto final, não distinguindo discursos directos e indirectos, de modo que os seus romances têm de ser lidos diferentemente dos outros romances. Isto significa que o texto exige uma atenção especial aos leitores, dando-lhes a impressão de estarem envolvidos directamente no mundo real e, ao mesmo tempo, fictício, ambos construídos nas suas obras.
Para além do elaborado trabalho de linguagem, Saramago aborda profundamente os problemas de Portugal contemporâneo e da identidade do povo lusitano. Além de apresentar o rumo que Portugal deverá seguir e a sua visão do mundo, Saramago procura a identidade do homem perdida na sociedade moderna. Talvez através do seu estilo torrencial, que às vezes o toma difícil de ler, esteja a procurar a identidade de Portugal após a sua adesão à União Europeia.
Concluindo, a grandeza das obras de Saramago reside no esforço de evocar a História e a identidade da 'pátria perdida', juntamente com a procura de uma nova linguagem literária em que se afirma o seu espírito experimental.

Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

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