domingo, 11 de dezembro de 2011

ANA CRISTINA CESAR

Expoente da chamada poesia marginal dos anos 70, a poeta carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) tornou-se conhecida em escala nacional depois de figurar na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976.

Alma inquieta, Ana Cristina viveu mais de uma vez, viajou pelo mundo, estudou literatura e cinema, publicou poesia em edições independentes. Escritora compulsiva, produzia poemas, cartas, artigos para jornais e revistas, traduções, ensaios. Entre os principais títulos deixados por Ana Cristina Cesar, encontram-se A Teus Pés, Inéditos e Dispersos, e Crítica e Tradução. Ana suicidou-se em outubro de 1983, aos 31 anos. 

Sobre seu trabalho poético, diz o professor e crítico Paulo Franchetti: "Ana Cristina é um dos lugares principais (senão o
principal) do novo discurso poético, que funda a produção e a leitura do fragmento, a recolha do lugar-comum e a incompletude estética como
resultado da sinceridade confessional ou como índices da impossibilidade mesma da confissão total."
Segundo o ensaísta, o dado novo na poesia de Cristina está no coloquialismo, numa escrita que não quer ser literatura. "Escrevo in loco, sem literatura", anotou ela. É óbvio que essa mesma novidade não passa incólume pelo crivo dos estudiosos, que apontam na poesia dita marginal a falta de rigor e a tentativa de dar uma marcha à ré em direção ao piadismo e a certa inconseqüência do modernismo de 1922. Não falta também quem veja no movimento uma imagem invertida das vanguardas originárias dos anos 50. Enquanto estas são acusadas de formalistas, o pessoal da poesia marginal recebe a pecha de ter relaxado os procedimentos formais da poesia.

O certo é que Ana Cristina Cesar tornou-se o nome mais forte entre todos os identificados com a poesia marginal. O poeta carioca Armando Freitas Filho, que foi amigo de Ana Cristina e se tornou, depois, o principal divulgador de sua obra, tem uma frase interessante para caracterizar a rapidez e a brevidade da vida e da obra da autora de A Teus Pés. Para ele, a amiga queria "pegar o pássaro sem interromper o seu vôo".

"A poesia de Ana Cristina Cesar caracteriza-se por ser predominantemente confessional, mas o tom de intimidade, não nos deve enganar, pois é apenas um lance de sedução estética. A correspondência, realmente, como apontou Armando Freitas Filho, teve bastante influência sobre a sua dicção poética. Ela cria um verdadeiro jogo de linguagem: textos curtos, poemas fragmentados, cartas, páginas de diário. A poesia torna-se, desta forma, uma inquietante reflexão sobre o próprio fazer literário".  (p. 22)
"Assim percebemos que o texto-colagem da poeta instaura um sujeito estilhaçado, uma memória construída através da subjetividade fincada no corpo coletivo da linguagem. Seu método de composição baseia-se na apropriação incessante de versos e trechos de outros escritores que ela distorce, desloca, alude, readapta, reescreve, parafraseia e parodia. É uma obra que faz uma reflexão constante sobre a natureza do literário".  (p. 27)

"Os poemas de Ana Cristina Cesar, inserida no clima da geração 70, revelam, entre as muitas características que marcaram a produção poética daquela época,  as seguintes: atração pelo insólito do cotidiano; ênfase na experiência existencial num momento especialmente difícil da história e da política brasileira; volta à primeira pessoa, à escrita da paixão e do medo como caminho eficaz no sentido de romper o silêncio e a perplexidade que tomaram de assalto a produção cultural no início da década; o sentido de asfixia, experimentado no cotidiano, mas trabalhado com humor; valorização do coloquialismo; culto do instante, eixo fundamental da nova poesia e do binômio arte e vida. / O binômio arte e vida era a consolidação de uma visão de mundo que valorizava o aqui e o agora: a ideia do presente, eliminando a ideia de futuro." (p. 55)
Textos extraídos da excelente obra de Arminda Silva de Serpa "Lições sobre asas e abismos; uma leitura da poesia de Ana Cristina Cesar", a partir de uma tese de doutorado.  Fortaleza> Imprece, 2009.   Metadados: Poesia da geração 70;  Poesia e comportamento; Poesia brasileira anos 1970. Crítica de Poesia.

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