domingo, 17 de junho de 2012

BENEDITO DIMAS FERREIRA

O escritor Benedito Dimas Ferreira nasceu no dia 03 de maio de 1965 na cidade de Taubaté-SP. Professor de inglês, romancista, contista, poeta e trovador, Benedito Dimas Ferreira é formado em Administração de Empresas e em Letras, pela Universidade de Taubaté. O autor é membro da União Brasileira dos trovadores de Tremembé-SP e participa dos eventos literários promovidos pela Biblioteca Municipal de Taubaté. Benedito Dimas foi premiado várias vezes em diversas categorias como trovas, poesias e contos. Os feitos dos quais ele mais se orgulha: um conto premiado pela Academia Taubateana de Letras, e dois premiados em Avis – Portugal.

OBRAS:

51 Trovas, 25 Poesias, 28 Contos (2 livros), 1 Livro de não ficção, 1 Romance baseado em fatos reais

PREMIAÇÕES

2003 - Concurso de Poesias -“Casarão das Artes” – Taubaté-SP
Poesia Mundo Breu 5º lugar
2004 -  XVII Concurso Nacional de Contos “Cidade de Araçatuba”
2007 - V Concurso de Poesias Poetas do Vale – Taubaté-SP
Poesia Fidelidade Matrimonial  Diploma de Menção Honrosa
2009 - Concurso de Trovas da UBT – União Brasileira de Trovadores –  Tremembé-SP
Trova Emoção Menção Especial
2009 - União Brasileira de Trovadores de Tremembé-SP I Concurso de Trovas e Poesias do Salim Taubaté-SP - Trova Imigrante Menção Especial
2009 - VIII Concurso de Poesias Poetas do Vale – Taubaté-SP
Poesia Manobrista de Estacionamento - Diploma de Menção Honrosa
2011 -  2º Concurso Regional de Contos – Academia Taubateana de Letras
Conto O Perdão Diploma de 3º lugar
2011 - VIII Concurso Literário “virArte” -Santa Maria-RS
Poesia Tributo ao Sol Diploma de Classificação
2011 - União Brasileira de Trovadores de Tremembé-SP
1º Festival Literário de  Tremembé Trovas, Poesia, Conto e Crônica
2012 – Conto: A Crise - Diploma de Menção Honrosa no X Jogos Florais de Avis, em
Portugal

CONTO 1: A CRISE – Autor: Benedito Dimas Ferreira

Este conto foi premiado com Diploma de Menção Honrosa no X Jogos Florais de Avis, em
Portugal, no dia 19 de maio de 2012.


A cidade está uma correria. Também pudera, é dia de decisão política. Sim, uma decisão política mundial está prestes a acontecer. Como deputado federal de respeito em meu país, eu não poderia ficar fora desse evento monumental, e aqui estou: Numa grande metrópole da Europa, num suntuoso prédio onde funciona um importante departamento da maior Organização Representativa das Nações do planeta. O que vou assistir? É simples: Nesta audiência, uma pessoa devidamente habilitada, vai anunciar o nome do país mais rico do mundo. Estou trajando um terno passeio completo. O terno é preto e a gravata azul marinho.
Acho que estou bem vestido, afinal, a ocasião merece. Para não perder o tipo de “executivo”, eu não me esqueci de trazer minha tradicional valise. Não posso reclamar, afinal, além do enorme salário que me pagam como deputado federal, eu fui escolhido para representar o meu país neste evento esperado por todos. Fiquei hospedado num hotel 5 estrelas. Assim como o avião que me trouxe, o hotel, a hospedagem e até mesmo a limusine que me trouxe até este suntuoso edifício são de primeira classe. Entro no prédio e algumas pessoas passam por mim. Tem gente de tudo quanto é canto do planeta. E cada qual com o seu devido traje. Eu encontrei até mesmo pessoas trajando túnicas e turbantes, conforme as tradições de seus respectivos países.
O auditório também é grandioso. Ele exibe as bandeiras dos países mais influentes do mundo, os quais tiveram seus respectivos hinos tocados antes de começar a cerimônia. É estranho estar aqui, num evento extremamente importante, torcendo para que o meu país seja lembrado como o país mais rico do mundo. Afinal, estamos em meio à maior crise financeira desta região do planeta, onde não se localiza o meu país de origem. Porém, este meu país, devido à soma de seu PIB, ou seja, de seu Produto Interno
Bruto, que é a somatória de todos os bens internos do país; às suas belezas e riquezas naturais; à grande produção de alimentos; à estabilização da moeda e ao declínio acentuado do desemprego, tem grandes chances de ser considerado o mais rico do mundo. E estou na expectativa. O tempo passa, e até mesmo as autoridades aqui presentes ensaiam algumas conversas paralelas entre si, a fim de matar o tempo e de
acalmar a ansiedade provocada pela espera. Até cafezinho os representantes tomam.
Finalmente, é anunciado o nome da nação mais rica do mundo. Eu fiquei pálido momentaneamente.
Quase passei mal. Eu não podia acreditar no que ouvia: O nome do meu país era pronunciado em alto e bom tom nesta casa de todas as nações. A minha pátria mãe era a nação mais poderosa do planeta. Muitas autoridades presentes cumprimentaram o nosso presidente da república, parabenizando-o. Fiquei muito orgulhoso. Ao retornar, parecia que até mesmo o terno que escolhi para usar neste evento tão especial, pesava sob as minhas costas, tamanha a responsabilidade de ostentar um importante cargo público no país agora considerado a maior potência mundial. O terno pesava tanto que, já acomodado na poltrona do avião, fui acometido por um sono tão pesado que tudo o que fiz em seguida foi dormir... E tive um dos sonos mais profundos e renováveis que já tive em toda minha vida.
Ao chegar ao meu país, uma limusine oficial do governo federal já me esperava no aeroporto. Dentro da limusine tinha de tudo: desde lanches e sucos, até aparelhos de DVD com vários filmes ao meu alcance para escolher. Eu pensei comigo mesmo: “Pra que tudo isso? É muita pompa pra quem não precisa. Eu tenho um salário altíssimo; eles me pagam tudo. Até gasolina, hospedagens em luxuosos hotéis e ajuda de custo para aluguel eles me pagam. Ajuda de custo pra que, se com o alto salário que recebo, eu posso muito bem ter a minha própria mansão? Isso tudo sem contar que meus assessores têm praticamente a
mesma mordomia!”. Prezado leitor(a), vamos deixar pra lá estes absurdos considerados legais neste meu querido país, que compuseram a minha crítica social neste conto, e vamos voltar à minha narrativa:
E esta confortável limusine adentra o portão da frente e após percorrer o lindo jardim que envolve o meu lar, me deixa na porta da minha mansão. As camareiras e os mordomos correm para me atender.
– Quer ajuda senhor deputado? Posso trazer algum lanche ou alguma bebida?
E o mordomo também oferece seus serviços:
– Precisa de alguma coisa senhor?
A minha vontade de resgatar a minha vida de homem normal, do povo, homem humilde, surgiu neste momento:
– Não, obrigado. Vocês podem retornar aos seus aposentos e não se preocupem comigo.
E tiro o meu paletó; começo a desfazer o nó da minha gravata; desabotoo alguns botões da camisa; solto os cadarços do sapato e com um prazer enorme por estar de volta à minha casa, após passar horas naquele ambiente cheio de gente de pompa, eu atiro os meus sapatos com os pés no chão daquela enorme sala e ligo a televisão. Todas as emissoras anunciavam a grande notícia sobre o reconhecimento de que o nosso país era finalmente o mais poderoso do mundo. Uma delas exibiu uma reportagem a qual prova que, apesar da decisão daquela Organização Mundial e apesar da “Crise” financeira que envolve os demais países do globo, neste meu país não há uma justa distribuição de renda. O número de pobres aumenta muito mais do que a minoria dos ricos. É como se o país fosse um enorme pão, e apenas 10% deste pão é destinado às pessoas de baixa renda e aos desempregados que crescem numa escala assombrosa a cada ano, e os outros 90% são pertencentes aos ricos. Ou seja, o título de “país mais rico do mundo” fica muito
bonito nas estatísticas e nas notícias que dão status ao país, mas de maneira alguma, este rótulo traduz de maneira fiel, a situação do país que chega a ser vergonhosa em muitas áreas como a saúde por exemplo.
Em muitos hospitais é comum o descaso com os nossos doentes, que morrem deitados em macas nos corredores à espera de atendimento. Aliás, eu assisti uma reportagem sobre a péssima situação de hospitais em nosso país, na qual exibe a mortandade de pacientes por falta de atendimento ou por atendimento ineficaz.
E pensei comigo mesmo: “Aos olhos do mundo este país é o mais rico, mas aos olhos de uma realidade cruel, onde impera o desprezo ao ser humano menos privilegiado, este país ainda tem muito que melhorar em muitos aspectos. Com muita coragem, elaborei um documento com fotos e vídeos mostrados na reportagem sobre o caos da saúde em meu país; anexei um Ofício solicitando uma revisão quanto aos trabalhos e às pesquisas em questão que elegeu e engrandeceu o meu país como sendo o “mais rico do mundo”; agendei a viagem de volta e entreguei os documentos ao representante desta grande Organização Mundial. Este senhor agradeceu o meu esforço e reconheceu em mim um homem raro nos dias de hoje, ou seja, um político honesto. Mas ele disse que não poderia anular a decisão soberana da escolha do meu país como “o país mais rico do mundo”. Porém, para justificar todo o meu trabalho de ter viajado até lá para expor as minhas idéias e os meus ideais, ele me mostrou o microfone dos palestrantes e me disse: “Vá até
lá, na tribuna, e diga ao mundo o que pensa, você merece ter esta oportunidade”. Toda a imprensa escrita, falada e televisiva acaba de ser informada que um nobre deputado desta grande nação, hoje tão respeitada ao redor do mundo, fará um pronunciamento expondo os seus pontos de vista.
Eu agradeci a oportunidade, me dirigi ao microfone e iniciei o meu discurso:
“O mundo anda nervoso, agitado. Tudo por causa da tal “crise” pela qual passa muitos países, antes tidos como grandes potências mundiais. Hoje, porém, estão travando uma guerra interna moral e emocional. Não se sabe se a moeda destes países é uma moeda forte ou fraca; se a economia local está bem estruturada ou não, muito menos se haverá emprego para todos no futuro. Eu gostaria de aproveitar a oportunidade e fazer um alerta: A riqueza, a qual pode ser mensurável através do dinheiro que nada mais é do que papel transformado em nota, e metal transformado em moeda, não é parâmetro compatível com os verdadeiros e sublimes dons inatos do ser humano que são o Amor e o Respeito para com o próximo. Vamos adotar como critério a qualidade de vida das pessoas. A população tem o direito de viver bem. E para isso ela tem que trabalhar, se alimentar, e se educar adequadamente, com a saúde devidamente assegurada dentro dos recursos atuais com os quais a medicina pode contar, e ainda, tudo dentro de uma maneira sustentável de se viver, preservando as florestas e o meio ambiente. Aí sim,
poderemos premiar esta nação não com o título de “o país mais rico do mundo”, mas com a virtude de ser “o melhor país do mundo.” Obrigado.”
Com lágrimas nos olhos, mas com a consciência tranquila do dever cumprido, abandono o
microfone; agradeço às autoridades e às poucas pessoas presentes na ocasião, e me retiro. Entro na limusine que me leva até o aeroporto. Já dentro do avião, a aeromoça me acorda:
– Senhor deputado, chegamos ao seu destino e parabéns pelo título que o seu país conquistou.
E eu respondo prontamente:
– Obrigado. E o que você achou do discurso?
– Discurso? A qual discurso o senhor se refere?
– Da minha proposta de melhorar a vida das pessoas ao invés de se preocupar apenas com a “crise” financeira dos países.
– Sinto muito, senhor deputado, mas eu só me lembro de que o nosso país foi escolhido hoje como o “país mais rico do mundo” e nada mais.
Com as mãos trêmulas, retiro do bolso do meu paletó o convite para o grande evento da maior Organização Mundial das Nações do Planeta, o qual escolheu a maior potência mundial da atualidade. E percebo que a data que consta no convite é a de hoje, ou seja, após a cerimônia, eu dormi no avião, na viagem de volta, e aquele discurso maravilhoso não passou de um sonho. Autoridades de meu país e dos demais países do mundo que vierem a ler este meu conto, por favor, façam o meu sonho virar realidade!

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