domingo, 3 de junho de 2012

GUERÁ FERNANDES

PEDRA SOBRE PEDRA

Pedra de ser canto de claríssimos e mínimos e descontentes, corte do quase nunca, onde tudo é horizonte di-verso. A poética nos “impricípios” enredados de meios sem fim.  Sobreviver a escrita a coisa dita que a poesia que delira também planta duras vigas. Há algo que logo se anuncia: a solidão é para os fortes! E é doce como se já estivéssemos depois do perdão. E pudéssemos amar o outro como a si mesmo. Não são mais poemas de redenção, são de compreensão. Eu estive por lugares que partem. E quando se chega assim. Vê-se que caminhar é não ter fim. Porque os lugares sempre partem. Duro aprendizado de quem se lança a viver sua poesia, e com ela a cara pra bater, dela a carne pra doer. Há que ser forte para sobre vi ver-se. E há mesmo por parte minha, discursos e poéticas, que já não são mais delírios líricos, mas devires da escrita. A problemática da poesia, de valores, se ser significa, a voz no beco sem saída não lamenta. E agora não se pergunta tal um personagem de Chaplin desajustado. Falar de poesia num momento desses é feito inadequado, fora de hora, tanta coisa pra fazer. Ser poeta é uma espécie de não ser. Não caber muito bem nas gretas visíveis, a vida com seus becos cada vez mais estreitos. Agora sem mil portas. Assumir o não ser. Diante do vazio do mundo, de toda ausência de não ter tido, o perdido de nem ter reconhecido o direito de não querer. Já sabia o deserto, já me sentia de lugar nenhum. O instante do não movimento na coisa fotográfica e a fotografada! O objeto do poema, o flash de quem olha de dentro e rente. Palavra música teatro romance-cinema no novo trabalho de ferro e fotos anímicos irresponsavelmente anímicos da estética das artes plásticas. Talvez seja verdade que toda poesia no fundo não passa de um poema de amor. E se as paixões não sobrevivem a perda do objeto amado, com amor é diferente, o amor pode ausentar-se a vida inteira da gente e estar sempre ao lado. Eu nem sei bem, \ mas eu continuo \ e falo por nós dois. \ – Não esquece o casaco! \ \ Veja os relâmpagos! \ A noite tem seus segredos... \ Amar vem de um destempero. \ Canção que não descansa \ na cachoeira. O verde \ mais bonito. Dividir \ o que temos quando já é \ pouco. Existir é insistir. \ \ Se a vida é adversa \ e ela pede eu verso \ eu voo e grito ao infinito. \ Meu canto triste pode \ \ \parecer, mas acredite \ é um choro de quem resiste! O humano parece viver mesmo o cume da automatização. A máquina faz tempo não assusta o homem. Ela já tem uma história com o homem. Os brinquedos que brincam nossas crianças, o título de intrigante poeminha é para desafiar o leitor a investigação. Quem é que brinca se pergunta quando brincar é o princípio de tudo até o fim. Havia ali uma estranheza de pele. A morte da máquina representada na arte. Brinquedo bélico insurgindo do cemitério de coisas. Imponho-me uma busca de renascer ou de pelo menos morrer na arte.
         
                                      Um estranho no fim da avenida!

PEDRA DE SER CANTO

Adélia vê na pedra de Drummond
O olhar generoso sobre as coisas
Ana C. diz que no meio do caminho
A pedra do poeta é o time
Que você tira de campo

Viver é uma espécie de cansaço
Ainda que Cabral a cante à palo seco
Sem lira sem romance sem vinho
De nascença uma pedra
A alma estranha de ser canto

E mesmo sem régua que sou vento
Eu olho para a pedra em silêncio
De ser pedra e não sentimento
Sei que da montanha carrega
Uma espécie de remanso

A pedra no meio do caminho
Como alguém em perdido descanso



TRILOGIA POÉTICA

2001 - Na Antessala da Fala, um livro todo à espreita, o verso beirando-se ainda. Um rio improvável e seus tantos disfarces: córrego, lago, cachoeira, cidade... As palavras nossas repetidas de todos os dias, mas ainda mais aquelas que jamais serão ditas. Esse silêncio do não-dito é assustador. As pessoas romantizam o silêncio, porque desaprenderam a escutar. Só a poesia compreende o terror do silêncio. Mas poesia é também do voo das palavras-aves, palavras-pássaros... Rio não ri nunca, alagado. Cachoeira é que dá risada.

2008 - Mares de Ilhas e de Cores se Chove, saiu sete anos depois e um desejo forte de exorcizar um pouco essa relação de culpa que as pessoas sentem e sofrem buscando um ser sublime. ‘Sua leitura é sua pedra. / Quem poderá deter-te montanha de palavras? Cada um lida com seus cascalhos diários. // Nos seus olhos esse diamante sofrido. / Ainda que verde o castanho.’ Os silêncios são sós. Estiagens de sons. Os poetas são meninos .Que não foram bons. Eu abri o livro brincando com cores, mares, ilhas, chuva. Eu pop, mas não com descrédito. É mais uma poesia que não pede perdão e que da próxima vez promete ser mais cruel. Era o meu rock! Parece-me que só o que fica dos outros é o que somos de verdade em definitivo.




2009 - Infinito Berrante, saiu no ano seguinte. O momento do grito. Um livro denso. Na capa a foto da atriz Adriana Rabelo no monólogo Visitando Camille Claudel, famosa escultora francesa. Porque amantes nós somos mágicos. Mas amando nos tornamos trágicos.




2010 - O POÇO, um conto épico, poético, impactante. O livro possui uma linguagem de entranhas cinematográfi­cas. O texto se move como se portasse uma câmera capturando as imagens. A sétima arte entende melhor essa coisa ‘de que parece um amanhã, mas já está acontecendo. É esse agora muito presente’. E é nesse futuro indeterminado entre o aparente real e um possível sonho onde se encontra o poço, espécie de limbo. Fantástica a transforma- ção dos dois irmãos: Jeremias, menino poeta que aprende a sobreviver como um urubu e se torna o melhor catador de lixo da cidade; e Mirael, que vai buscar a sua identidade e se torna o imperador dos ratos. São muitas as simbologias para falar do humano no lixo. E é na saga de uma mulher que o leitor fará uma viagem num tempo aonde o mundo chegou ao ­m. Por ora se perguntará se apenas estará preso ao sonho dela. Ela: a guardiã do poço. Clarice, mãe, prostituta, que viveu de concessões, se entregando aos generais mutilados, voando baixo como uma barata. Ela decide que eles só tomarão da água do poço depois que a pequena chegar para juntos fazerem a travessia. E a fi­lha que não chega? Diana, aquela que tem a marca da profecia. Encanto e magia para revelar que milagres acontecem e que inevitavelmente caminhamos para nossa redenção ou a destruição da humanidade.


Guerá nasceu no dia 30 de julho de 1968, em Durandé, Minas Gerais. Em 2001 lançou o livro Na Antessala da Fala, um trabalho independente. Do encontro com Editora Multifoco: Mares de ilhas e cores se chove (2008), e Infinito Berrante (2009) fechando uma trilogia poética. Em 2010, um trabalho em prosa, O poço.  Agora em 2012, a nova poesia do poeta está em Pedra de ser canto.
Para conferir e conhecer um pouco mais de Mares de Ilhas e de Cores se Chove, Infinito Berrante, O Poço e este novo trabalho de Guerá, Pedra de ser canto; para isso é só entrar no site http://www.editoramultifoco.com.br/ . Confiara mais sobre o autor blog  guerafernandes.blogspot.com/

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