segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A POESIA COMO FUGA, Simone Suelene

Em certa palestra sobre a “construção da linguagem poética” lancei uma provocação que parece ter incomodado um pouco, o que me deixa satisfeita, posto que para isso serve os “cutucões”...
Porém, cabe alertar que alma de filósofo não tem juízo, nem conceitos fechados. (pelo menos não a minha)
Como os poetas de Taubaté, alguns muito amigos por sinal, e não me refiro as amizades rasas, supérfluas, não, são dessas amizades, que se alongam por anos e que não precisamos mais do que uma linha para resolver quaisquer delongas existenciais ou outras que só precisaram de um olhar para acontecer, como foi o caso do Malosti, também com aqueles olhos...rs

Cabe nesse momento esclarecer o caso posto, da poesia como fuga.
E por que não?
Vejamos:
Se a arte imita a vida, quando somos atores, não vivemos a vida propriamente dita, nós a vivemos como a queremos, como a construímos...

E nesse caso, refiro-me a vida, enquanto algo que abarca o seu ser natural, e nisso se encaixa o embate filosófico acerca da poesia como uma fuga.

Fuga da possibilidade banal que se encontram estampadas nas vitrines e no comércio da livre concorrência, do capital. Daquilo que está posto como dado, que deve ser reproduzido...

Fuga como mecanismo de defesa que faz encontrar um meio para ser.
Sem necessariamente Ter. Pelo menos não objetos materiais.

O poeta se evidencia porque ele tem a palavra dita, escrita, tem o talento de encantar.

Sem medos, ousa, provoca, infere. Coloca-se seguro em sua jornada elencando suas adversidades, suas contestações...

Porém, o que provoco é que poesia é mecanismo de expressão, mas é também forma de elucubração, de elaboração da vida.

Dessa vida natural que nos coloca naturalmente em uma circunstancia que temos de abarcar, dar conta, enquanto enxergamos algo além, que não nos é disponibilizado.

E assim, fugimos, posto que não nos reste outra alternativa.

A ação posta ao poeta se figura em desnudar-se diante do outro suas próprias metáforas e visões de mundo também construindo suas saídas, seus subterfúgios.

E se faz fuga quando não encontrando nenhuma outra ação possível, o poeta, senta e escreve.
Transbordando as linhas de suas intenções mais nobres, mais castas, que são guardadas, separadas, do homem que vive a vida lá de fora.

Como se para o poeta existissem dois mundos. O que ele constrói e o que ele vive.

E para alguns filósofos só cabe, a danação eterna do seu próprio pensar. Posto que a ilusão já não é mais aceita, risos. E isso não é melhor ou pior, apenas se manifesta com o desafio do pensar. Pensar o que e para que?

Normalmente, alguns humanos, se restringem a pensar somente o que se é conveniente, como se fosse a única maneira de pensar e de agir, alguns humanos adultos, ainda acham que possuem a verdade absoluta, e no seu íntimo, acreditam estar certos...

A subjetividade fora construída, não foi obra dos deuses. Cabe a nós pensantes e errantes, desconstruí-la e juntos construirmos pontes para atravessarmos nossos abismos arquitetados tão brilhantemente por nossas mentes construídas em material sólido, geneticamente comprovado disponíveis em breve em laboratórios...

Devemos lembrar que somos uma espécie viva entre outras milhões e que vivemos num planeta entre outros milhões, numa galáxia que é uma entre milhões, e que se formos expostos à nossa atmosfera, desintegraremos.

Para que dar tanta atenção ao que nos incomoda, se não for para avançar?

E percebo que nisso avança em muito o grupo de poetas de Taubaté, que nessas palavras, busco homenagear.

Poetas que não se incomodam em ir além e levantar de suas cadeiras e avançar para o mundo, para a praça, para o infinito...sem medo do enfrentamento que irão descortinar.

A resistência se dá no acontecimento. Parabéns aos poetas e artistas de Taubaté, que acontecem e fazem história e que não vieram a esse mundo a passeio e que sabem que a existência é muito profunda, para sermos rasos.

Grande beijo, da sempre amiga

Profª. Simone Suelene
Filósofa e terapeuta humanista. Atuo com qualidade de vida e desenvolvimento humano
Visitem, leiam, opinem, pontuem e critiquem com carinho:
http://simonesuelene.blogspot.com

3 comentários:

  1. Belo texto, cara Simone. Assino embaixo, a poesia sim é uma 'fuga' para dentro de si, para mim ela representa sempre uma inquietação, provocação. Separo as duas pessoas que me habita, a poeta Máh e a Maíra, como escrevi um poema que compartilho com você neste texto. Abraços, beijos da poeta

    DUAS

    'Sinto-me

    Cortada ao meio

    Dois corpos

    Choque de realidades

    Não habitadas'

    01/01/2012

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  2. ESSA EH A SIMONE..... A MENINA QUE QUANDO VI NASCER, VI NELA TODA POESIA DO MUNDO SEU NASCIMENTO FOI PARA MIM UMA ETERNA POESIA...GRANDE ABRACO

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  3. Simone, parabéns.. não poderíamos iniciar a Orgia Literária sem uma palavra contestadora e acima de tudo esclarecedora como a sua. Entendo que a poesia possa ser uma fuga sim. O fugir para dentro de si, para fora também, utilizando as metáforas, falando ao mundo nas entrelinhas... tudo é uma possibilidade diversa de expressão, abarcar dores, falar de amores. A frustração nossa de cada dia expresso em versos... Parabéns pelo texto espero poder contar com sua participação outras vezes.. Beijos e parabéns....

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